segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Inquilino novo na A.Bo.Ca

        Nesses meses de agosto e setembro a A.Bo.Ca Espaço de Teatros, espaço cultural que serve como sede da Bololô, do Grupo Carmin e do Coletivo Atores à Deriva tem um novo inquilino: a Tropa Trupe, grupo circense aqui de Natal. 

Atores à Deriva, Bololô Cia. Cênica, Grupo Carmin +  Tropa Trupe

      A Tropa Trupe ficou temporariamente sem sede e está agora ocupando nosso espaço, finalizando a montagem do seu novo espetáculo "A Lenda do Trapezista Cego". Nosso espaço está mudado com a presença da Tropa: chegamos na sala de ensaio todos os dias e vemos o tecido aéreo e o trapézio pendurados no nosso teto - é impossível esquecer que um grupo de circo anda por aqui. Estamos muito felizes de recebê-los em nossa casa. É com imenso contentamento que vemos a produção cultural de Natal se enriquecer e se diversificar. Acreditamos nas parcerias entre grupos para nos fortalecermos e conquistarmos cada vez mais força e poder nessa luta difícil que é viver de arte.
    Para saber mais e ficar por dentro do que a Tropa Trupe anda aprontando, basta visitar o site: http://www.tropatrupe.com/.
    Para saber mais sobre a A.Bo.Ca, clica aqui


   

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Dos presentes que recebemos

     O Retrato do Artista Quando Coisa é um espetáculo feito de presentes: presentes do acaso, do abandono e também do carinho. O cenário é composto por coisas que encontramos na rua, trastes e inutilidades, ou coisas que nós próprios, os atores, abandonamos, coisas que amigos e espectadores abandonaram conosco, para virar poesia. 
      Aceitamos entulho para poema: coisas inúteis que servem para virar poesia. É sempre com grande alegria que recebemos cada coisinha abandonada. E recebemos também outros tipos de presentes: palavras. Sexta-feira passada (dia 01 de agosto) apresentamos o Retrato do Artista Quando Coisa na mostra local do Palco Giratório em Natal e fomos presenteados com palavras encantadas e encantadoras de uma das espectadores, Michelle Ferret. Ficamos tão agradecidos que compartilhamos aqui as suas (des)palavras: 

Foto-presente de Paulo Fuga


"Os Deslimites da Palavra e do Tempo do Ser
Ser convidado a entrar no vazio, no inóspito, no abismo de nós mesmos. É assim quando invadimos o espaço sagrado do “Retrato do Artista quando Coisa” da Cia Bololô. Inspirada livremente na obra do poeta Manoel de Barros, quatro atores (Paulinha Medeiros, Luana Menezes, Arlindo Bezerra e Rodrigo Silbat) se despem do cotidiano e se vestem de imensidão. Um guarda chuva é transformado em puxador de estrelas ou apanhador de nuvens, um funil é usado como esticador de horizontes e até uma pasta vazada e vazia se torna um pedaço de infinito. Junto com o público, eles abrem as janelas de nossas gaiolas seladas pelas leis, regras e normas e iluminam com lanternas coloridas o imaginário, o que existe de mais bonito ao redor que são os sentidos. Manoel está presente o tempo inteiro, desde o fim até o início quando o nada é tudo e tudo pode ser o que quisermos, até ninguém. O cenário é construído a cada apresentação, quando os próprios espectadores doam objetos pessoais inutilizados. Nesse relicário, eles constroem o escritório de ser inútil ou lugar em que Manoel diz em que são jogadas as fitas cassetes que não tocam mais, as pontinhas de lápis usados, os pneus de caminha já idos. No Retrato tudo cabe, desde pedaços de plásticos até manequins sem braços utilizado como fôrma de gelo ou suporte ara pensamentos contrariados. O Retrato do Artista Quando Coisa é um alento nesse mundo tão frio. É um recorte de uma imensidão que esquecemos muitas vezes, naqueles momentos em que o tempo parece parar e te grita “vem”, “aproveita”, a vida é isso, e é nada. Somos um nada ali juntinhos, somos Manoel e esse desconcerto natural da vida, somos cada pedacinho de estrelas desaparecidas. Ao final a emoção tomou conta de mim, quando lembrei que hoje, Manoel de Barros depois de perder o segundo filho, Pedro, se isolou, ficou caladinho, quietinho esperando o vento chegar. E no cintilar das latas o som dele me arrancou do chão. E só resta agradecer sua existência, sua composição de sons e silêncios que nos rasgam, inquietam e reviram. Como ele mesmo diz “Só uso a palavra para compor o meu silêncio”. E feliz que exista a Bololô, que nos leva a um lugar sagrado, muitas vezes esquecido, calado e que quer acordar a qualquer momento.
Gratidão meninos! Vocês são do mato, do amor, do mundo! Vida Longa!"

      E devolvemos o agradecimento a Michelle e todos aqueles que se permitiram olhar de azul e embarcaram na viagem pela poesia de Manoel de Barros. 




terça-feira, 29 de julho de 2014

Retrato do Artista Quando Coisa no TAM!

      É sempre com enorme alegria que a Bololô apresenta em casa. Nesta sexta, dia 01 de agosto, apresentamos, à convite do SESC, o nosso Retrato do Artista Quando Coisa no Teatro Alberto Maranhão, às 20 horas. A apresentação compõe a mostral local do Palco Giratório, maior circuito de artes cênicas do país.

Foto: Paulo Fuga


      A Bololô fará ainda um intercâmbio com o grupo pernambucano Magiluth, que apresenta Viúva, Porém Honesta no dia seguinte, sábado, às 20 horas, também no Teatro Alberto Maranhão.
      Estamos muito empolgados para esse encontro, uma vez que o Magiluth é um grupo que admiramos e cujo percurso e escolhas tem muitas afinidades com a Bololô. Esse ano tivemos um gostinho dos procedimentos de criação usados pelo Magiluth, quando fizemos um intercâmbio com um dos atores do grupo, o ator e também dramaturgo Giordano Castro (pra saber mais, clica aqui). O encontro foi tão frutífero que deu início ao nosso novo projeto, que será levado adiante ano que vem  - vem coisa boa por aí! ;)
      Os ingressos para ambos os espetáculos serão distribuídos uma hora antes e são GRATUITOS! O Sesc pede apenas um 1kg de alimento não perecível.

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Retrato do Artista Quando Coisa

ONDE: Teatro Alberto Maranhão (Praça Augusto Severo, Ribeira)
QUANDO: Sexta, 01 de agosto
HORA: 20 horas

Gratuito.
+ 18 anos.






       

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Reestreia do Encruzilhada!

        No final do ano passado, a Bololô Cia. Cênica, em parceria com o Coletivo Artístico Atores à Deriva e a Mapa Realizações Culturais, montou o espetáculo Encruzilhada do Mundo ou Sobre a Areia e o Vento. O espetáculo foi dirigido pelo diretor Luis Fernando Marques (Grupo XIX/SP), com co-direção de Paulo Arcuri. Já a assistência de direção é de Alex Cordeiro e a dramaturgia de Luana Menezes, ambos da Bololô.
      E agora temos o prazer de anunciar a reestreia do espetáculo, com duas apresentações no Teatro Alberto Maranhão, nos dia 26 e 27 de julho.




        O espetáculo foi contemplado pelo edital Natal em Cena 2014 e integrou a programação do Natal em Natal.

QUANDO: 26 e 27 de julho 
HORÁRIO: Sábado às 20 hr; domingo às 19 hr
ONDE: Teatro Alberto Maranhão

Vendas de ingressos antecipados na loja Scala, no Midway. Garanta o seu!

Para mais informações, Clica aqui!
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Quer saber mais sobre o espetáculo?




Foto: Joanisa Prates

Numa cidade rodeada pelas dunas e pelo mar, um hangar vira encruzilhada do mundo, encruzilhada de vidas, encruzilhada de tempos - um lugar por onde o vento passa e as histórias chiam, um lugar por onde tudo passa: os aviões, as esperanças, as gentes. Dentro deste hangar, um avião grande o suficiente para que nele caibam todos os sonhos. A gente da cidade ali se cruza, e cruzam seus sonhos com a esperança de voar.

Foto: Tiago Lima

      Entre a realidade e o sonho, entre a espera e a ação, entre a pura sobrevivência e a vida mais viva, entre o peso e a leveza, entre as dunas e as nuvens, entre a areia e o vento... as gentes vão revelando seus conflitos e contradições, que são (também) reflexos ensolarados e difusos dos conflitos e das contradições da cidade.

Foto: Tiago Lima

Assim é a Encruzilhada do Mundo ou Sobre a Areia e o Vento: a história de uma cidade recontada através das histórias da gente que nela vive. A história inventada de uma cidade. A história revista, relida, poetizada. 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Retrato do Artista Quando Coisa de volta à Natal!

         Após a finalização da turnê do Retrato do Artista Quando Coisa nos Centros Culturais do Banco do Nordeste, o espetáculo finalmente volta à Natal com apresentação ÚNICA dentro do Circuito Potiguar de Cultura Viva, uma programação cultural intensa durante a copa. 

Equipe da Bololô ao final de uma das apresentações

      A apresentação será no dia 18 de junho, às 20 horas, na Casa da Ribeira. Oportunidade única pra quem ainda não viu (ou pra quem quer ver de novo) e se banhar de poesia! A Bololô espera vocês!

      A apresentação será gratuita, mas quem puder ajudar levando 1kg de alimento, nós agradecemos. 
       Para conferir a programação completa do Circuito Cultura Viva, clique aqui.


quarta-feira, 21 de maio de 2014

Intercâmbio artístico: alguns dias com Giordando Castro

      Semana passada a Bololô Cia. Cênica recebeu o ator pernambucano Giordano Castro, do Grupo Magiluth. Foram dias de muito trabalho e encontro. Giordano veio com o simples intuito de trocar experiências conosco, nos apresentar alguns jogos e procedimentos de criação que o Magiluth usa.   
       Num dos dias de trabalho, aproveitamos uma manhã de sol para ir trocar figurinhas sobre poetas e escritores favoritos no Bosque dos Namorados, compartilhar gostos e nos contaminarmos com a poesia apresentada pelo outro. Arte é também isso, deixar-se contaminar pela poesia do outro. E, principalmente quando se trata de teatro, de criação coletiva, saber escutar e estar aberto para a proposição do outro é essencial.

Inspirações (ou situações disparadoras) escritas nas paredes para o Jogo

        Fora isso, Giordano nos apresentou um jogo extremamente potente para a criação. O mote do jogo, os temas para nortear e inspirar os atores, foram recolhidos a partir de músicas escolhidas por eles. Cada ator escolheu duas músicas e todos ouviram juntos, escrevendo em brainstorm tudo que lhe remetesse a música. Desse grande brainstorm coletivo, temas comuns foram elegidos e escritos nas paredes. Foi aí que o o jogo começou. Como o último processo criativo em que a Bololô inteira esteve envolvida foi o Retrato do Artista Quando Coisa (em 2012), foi muito especial voltar a sentir esse gozo de criar, "o gozo de Deus", como diria o poeta Manoel de Barros. 

Apresentação dos rascunhos dramatúrgicos criados a partir do Jogo

       E, por todo o encontro e disponibilidade para o encontro, a Bololô agradece com muito carinho a Giordano pelos dias compartilhados. E que venham outros!

     

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Treinamento pra quê te quero!

      Semana passada postamos na nossa fan page no facebook (não curtiu ainda? Curte agora!) uma foto de um dos nossos treinamentos, uma aula de yoga conduzida pela atriz Luana Menezes (que tem formação básica em Hatha Yoga). Muitas pessoas se mostraram interessadas e até mesmo surpresas com o fato de aulas de Yoga integrarem nossa rotina de trabalho, sem entender direito o porquê de precisarmos disso. Muita gente não faz ideia de como é a rotina de trabalho de um grupo de teatro profissional e não sabe que, além de todas as funções administrativas do grupo e da sede do grupo (o espaço cultural A.Bo.Ca. Espaço de Teatros), além de escrever projetos e outras mil funções de produção, além dos próprios ensaios, dedicamos uma parte do nosso tempo ao treinamento

Hatha Yoga

        Sim, artistas da cena treinam. Atuar requer preparação, ensaio, trabalho. Há quem ainda pense que basta "decorar" o texto e falar, entretanto, atuação, especialmente para teatro, demanda muito mais que isso. 
        A Bololô já teve contato com vários métodos de preparação e treinamento, alguns são específicos para a atuação (como Pré-Expressivo e Rasaboxes), ou mesmo para a dança (Contato Improvisação, Dança Contemporânea), e outros, como a Yoga, são treinamentos paralelos, mas que acreditamos serem de grande valia para o enriquecimento do ator. 

Luana na Oficina de Rasaboxes ministrada por Michele Minnick


Luana e Silbat numa aula de Contato Improvisação conduzida por Cláudio Dias (Cia. Luna Lunera/MG)

Arlindo e Silbat na aula de Contato Improvisação
          E afinal, qual a importância do treinamento? O treinamento atua tanto num nível puramente físico quanto emocional e psíquico. Prepara o aparato físico do ator/da atriz e amplia sua autoconsciência e suas possibilidades corporais, expandindo, por conseguinte, suas potencialidades criativas. A partir do treino contínuo, o ator/a atriz vai reconhecendo seus limites e horizontes, suas tensões e hábitos, suas válvulas e acometimentos, e gradualmente aprendendo como utilizar tudo isto ao seu favor, como modificar suas qualidades de energia, aprendendo a lidar com os pontos de liberação da mesma.
         Atualmente, estamos mantendo em nossa rotina a Yoga, Preparação Vocal (com o cantor Tiago Landeira) e Preparação Corporal (com a bailarina Ana Cláudia Viana). Neste ponto, cabe um esclarecimento que tem uma função política: chamar a atenção para o fato de que estes profissionais que nos acompanham não são remunerados, pelo simples fato de que não temos recursos suficiente para pagá-los. Trabalhamos, então, nos apoiando mutuamente. O que, obviamente, não é o ideal. Por isso é tão importante a luta por mais verba para a cultura, para podermos investir, pagar todos os profissionais envolvidos no trabalho, etc, etc. E vamos à luta!

Arlindo, Ana Cláudia Viana, Alex e Silbat

Luana, Paulinha, Silbat, Tiago Landeira e Alex





sexta-feira, 2 de maio de 2014

Diário aberto #RelatosdaAtriz 01

      Para quem não me conhece, aqui fala a Luana, fundadora da Bololô Cia. Cênica, atriz e escritora de diários, dentre muitas outras coisas (algumas que ainda nem sei). O post de hoje é dedicado ao trabalho que estou desenvolvendo no momento, a construção de um solo a partir dos meus próprios diários e dos diários publicados de Anaïs Nin. Este trabalho integra a minha pesquisa de mestrado, no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFRN. 
      Atualmente a Bololô está com duas montagens em andamento, o meu solo e o processo Memórias de Quintal, encabeçados por Paulinha Medeiros e Alex Cordeiro, fruto também das pesquisas de metrado dos dois. 
      Na última quarta, dia 30 de abril, fiz a primeira abertura do processo de criação, apenas para mulheres. No convite que enviei para elas, chamei a abertura de "ensaio aberto", mas na verdade não foi um ensaio, foi um jogo, uma experiência, uma troca. Pensei em escrever um relato sobre essa noite, mas fui incapaz. Talvez eu tenha nascido mesmo para escrever diários. 


Aquecimento.


      Então transcrevo aqui o que moveu minha escrita no dia seguinte à abertura do processo. 


"01 de maio de 2014

      Escrevo no meio da tarde preguiçosa com uma dor de cabeça nada amigável. Não sei se foi a noite pouco dormida, ou o muito vinho e pouca água. A Bianca (minha gata maravilhosa e blasé), que passou o dia inteiro dormindo na minha cama, me olha com seus olhos azuis de mistério enquanto engulo uma aspirina e bato essas teclas do computador.
     Acabei de ler o que escreveram para mim ontem no diário. Noite passada fiz a primeira abertura do processo criativo que estou vivendo. Leio e me emociono desde o fundo em mim. Saber que toquei, que adentrei, saber que minha dança (torta) e que minhas palavras e as palavras de Anaïs Nin chegaram e falaram ao íntimo de alguém... é a minha maior satisfação. É claro que faço arte por que me é urgente, por que sinto a necessidade de me expressar no mundo, por que amo o gozo de criar, o gozo de Deus (como diria Manoel de Barros), por que tenho gritos que não posso calar, por que tenho suspiros que quero dividir. Mas não faz sentido fazer só pra mim. Não vejo sentido numa arte sem destinatário. Sempre gostei de pensar na arte também como um espaço de generosidade, de alteridade, um espaço de ENCONTRO. (Isso não quer dizer que ela tenha que ser sempre bonitinha e agradável, não é isto que estou dizendo! Existe encontros também a partir da raiva, do grotesco, etc, etc. Não pretendo aqui me alongar nessa discussão).
       Faço arte por que quero me encontrar - e porque quero encontrar humanidades, como diria Grotowski; por que quero, sim, mudar o mundo (um sonho infantil?) por meio do sublime da arte. A arte é o meio e o fim.
      Nesse mundinho mesquinho e egoísta em que nos debatemos perdidamente como peixes moribundos fora d´água e da luz, que lindo e gratificante é encontrar o outro, nos (re)descobrirmos gente, gente com dores e amores, gente de carne e osso e mil e uma sensações: (re)encontrar o humano que somos. E, quem sabe, podermos nos unir a partir desse humano...! Isso me fascina. Tenho graves tendências hippie-existencialistas. Entretanto, para encontrar, encontrar verdadeiramente, é preciso desconstruir os muros (adeus, Berlim dividida!), é preciso tirar as máscaras, abaixar as guardas, é preciso desnudar-se. Corpo aberto. Peito aberto. É muito difícil ser sincero hoje em dia. É muito difícil SER. Somos tantas coisas, e raramente somos nós mesmos. Não deixam. Insistem em nos enfiar goela abaixo uma série infindável de tabus, pudores, convenções e valores que muitas vezes simplesmente NÃO NOS CABEM. Mas cabe a nós vomitar tudo de volta ou engolir pacificamente como um rebanho bem ordenado. Não, Senhor, eu prefiro ser a ovelha negra, branca, rosa-choque e azul-celeste. Prefiro ser as minhas escolhas. “Eu me recuso a viver num mundo ordinário como uma mulher ordinária. A estabelecer relações ordinárias. Eu quero o êxtase. Eu sou uma neurótica – sentido em que vivo no meu mundo. Não me ajustarei ao mundo. Me ajusto a mim mesma.” (palavras da minha amada Anaïs).
        Quero a liberdade de poder ser, de poder admitir e praticar os meus desejos, os meus sonhos, a minha vida. A minha vida que pertence a mim e a mais ninguém. Essa é uma das maiores inquietações do meu momento de agora.  E minha arte só pode ser (co)movida pelas minhas inquietações do agora. “A maior generosidade para com o futuro consiste em dar tudo ao presente”, disse Camus (com certeza eu me apaixonaria por ele se tivéssemos vivido na mesma época. Fato.). Acredito piamente nessas palavras.
       Afora minhas divagações que nunca têm fim, preciso explicitar a gratidão e satisfação imensas que sinto ao saber que minha arte tocou. Me sinto plena. Reafirmo minha escolha por trabalhar e viver de arte.
       Ontem, o primeiro “ensaio” aberto do processo de criação que estou vivendo sobre os meus diários e os diários de Anaïs Nin, não foi, na verdade, um ensaio. Foi um laboratório de criação aberto, ou melhor, um jogo. Um pequeno ritual para mulheres. E ah, como eu gosto de rituais! Enxergo o ritual justamente como um lugar de encontro e entrega.
       Preciso dizer que estava nervosa, sim. Abrir os diários é me abrir, e nem sempre sou bonitinha, perfeita, polida. Pelo contrário, tenho egoísmos, medos, carências, rasgos, fissuras, sexos. Mas entendo que isso não significa nada além do que significa: que sou humana. Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que se é. Eu só espero, na minha vida e na minha arte, ser o que eu sou. Provar dessa dor e dessa delícia, porque elas são MINHAS. Entendo o ato de abrir os diários não como um mergulho no lago de Narciso, mas como um meio de alcançar o humano em mim que quer encontrar o humano no outro. Sei que meus conflitos não são só meus. Sei que guardo as vozes de muitas mulheres destroçadas, porque eu mesma sofri destroços.
        Não tentarei descrever o que aconteceu. Nem me sinto capaz. Ainda não encontrei as palavras, se é que existem palavras. Foi íntimo e profundo. E reitero: nesse mundinho, estão em falta as coisas íntimas e profundas. Por isso, só tenho a agradecer a todas as mulheres que foram e que compartilharam a noite e o vinho comigo.




                           
     Agradecimentos especiais também aos homens que acompanharam/vem acompanhando o processo de criação: meu querido amigo multiartista Juão Nin, que agora está nasdistante terra de Sá Paulo, e meu amigo, cúmplice, provocador e preparador corporal Rodrigo Silbat. Obrigada aos dois por me provocarem, me tirarem da zona de conforto, por me darem coragem e apoio sempre."  

      

terça-feira, 22 de abril de 2014

Breve história dos quintais do Retrato

      Como alguns já devem saber, há duas semanas atrás a Bololô esteve em Juazeiro do Norte (CE) apresentando o espetáculo Retrato do Artista Quando Coisa, inspirado na poesia de Manoel de Barros, no Centro Cultural do Banco do Nordeste (que nos recebeu muitíssimo bem!). 
         As três apresentações em Juazeiro foram um marco para o espetáculo, pois foi a primeira vez que nos apresentamos numa relação completamente frontal e tradicional num palco italiano. 
        Para deixar vocês a par, faremos aqui um breve relato sobre a história dos quintais do Retrato. O Retrato nasceu na Casa das Artes de Ponta Negra, um espaço alternativo (lindo) em Natal (RN), que fica na Vila de Ponta Negra. Na época, nós estávamos ensaiando lá, mas não sabíamos ainda onde iríamos estrear o espetáculo, pois as pautas dos outros espaços teatrais da cidade estavam ocupadas ou caras demais pra nós. Foi quando um dos nossos diretores, o querido Odilon Esteves, veio a Natal e, em uma tarde de café e sol na Casa das Artes, nos disse : "Vocês tem que estrear aqui! Este é o quintal de vocês." E era mesmo. Para vocês entenderem melhor, há de se saber que o quintal é fundamental na poesia de Manoel de Barros. Manoel se denominava poeta de quintal, e dizia que seu quintal era maior que o mundo, pois o tamanho e "a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc. (...) a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produz em nós." E seu quintal era motivo de fascínio. Para nossa alegria, o nosso também nos fascinava. Pelas fotos, dá pra ver um pouco sua beleza: 

Quintal da Casa das Artes. O espetáculo começava aqui fora.
Foto: Diego Marcel.

Bugrinha escutando a voz das árvores tortas.
Foto: Diego Marcel.

Luana olhando o abandono pela janela.
Foto: Diego Marcel.

        Assim, o Retrato estreou completamente grudado e adaptado àquele lugar, àquele quintal da Casa das Artes. As cenas andavam pelo quintal. Explorávamos cada pedrinha, cada árvore torta, cada planta que furava o concreto e nascia tímida e sublime. Os espectadores tinham a possibilidade de explorar o quintal conosco, pegar no abandono e na natureza, contemplar sua beleza sem nenhum palmo de separação.
       Mas tínhamos o desejo de levar o espetáculo para outros quintais, de circular. Assim, pensamos em uma adaptação para teatros. Estreamos essa adaptação no Teatro Alberto Maranhão, em Natal (RN) e repetimos no Theatro José de Alencar, em Fortaleza (CE). O Theatro José de Alencar tem um pátio bem verde e começávamos o espetáculo por aí. Depois levávamos o público para dentro, mas não para as confortáveis cadeiras da platéia, e sim para cima do palco, junto conosco, de frente para a boca do palco, de frente para o proscênio, de frente para as cadeiras vazias da platéia. A intenção era revelar o abandono do teatro: seus ecos, seus morcegos, seus fantasmas. Foram apresentações lindas, mas que só funcionaram porque o palco do teatro era grande o suficiente para abrigar o espetáculo e os espectadores.
     

Arlindo no pátio no Teatro Alberto Maranhão.
Foto: Tiago Lima.

Paulinha fazendo comunhão com as águas no mesmo pátio.
Foto: Tiago Lima.

Público entrando no Teatro, indo sentar nas cadeiras brancas em cima do palco.
Foto: Tiago Lima.

Atores agradecendo ao final do espetáculo. Todo o avesso e o abandono do Teatro à mostra.
Foto: Tiago Lima.

         Então fomos apresentar em Juazeiro, e sabíamos que o palco de lá não tinha as dimensões necessárias para comportar o espetáculo e os espectadores. Nos vimos diante de um desafio. Ainda tínhamos muito apego em ter o público junto de nós, vendo de perto. Mas não havia outra solução: arriscamos fazer tudo, todo o espetáculo, em cima do palco, sem nenhuma cena externa (antes todo o começo do espetáculo era no exterior), tendo os espectadores sentados convencionalmente nas cadeiras da platéia, assistindo de longe. Temos de confessar que tivemos medo. Medo de o espetáculo não chegar, medo de não atingirmos nossos espectadores, de não comover como estávamos acostumados a comover.
         Felizmente, nosso medo foi em vão. O espetáculo funcionou. Fomos bem recebidos, e até ganhamos alguns trastes para transformar em poesia (para quem ainda não viu, o cenário do Retrato é composta por objetos e coisas trazidas a título de descarte pelos atores e por espectadores, coisas que, em cena, viram poesia). Agora temos a certeza de que não há limites para a poesia de Manoel. Ora, se a poesia manoelesca vence limites e montanhas, porque não iria vencer quartas paredes? 




terça-feira, 8 de abril de 2014

Retrato do Artista Quando Coisa no Cariri!




      Neste final de semana a Bololô Cia. Cênica ruma para o Ceará, para apresentar o espetáculo Retrato do Artista Quando Coisa* no Centro Cultural do Banco Nordeste Cariri, em Juazeiro do Norte. O espetáculo foi contemplado pelo Prêmio Funarte Myriam Muniz de Teatro 2011 e tem direção da Cia. Luna Lunera (Belo Horizonte/MG). 

         O espetáculo é inspirado na poesia de Manoel de Barros e tem predileção por transver as coisas abandonadas, tem um olhar para baixo – como o que Manoel confessou ter. Os objetos que compõem o cenário são trastes encontrados no meio da rua, ou inutilidades trazidas a titulo de descarte pelos próprios atores ou por amigos.

      
         É preciso transver o mundo, disse Manoel.  O Retrato do Artista Quando Coisa é, então, o resultado de uma série de transvisões e transversões, é o fruto do olhar modificado dos atores pela poesia cheia de deslimites do Manoel, é invenção do olhar que vê de azul. Os atores, assim, com o olhar azulado, cheios de pássaros e atentos mesmo para as coisinhas mais ínfimas, convidam o público a transver: as cenas, os objetos, a eles, a si mesmos, enfim, as coisas. Pois tudo vira coisa, tudo fica passível de transformação, de ser visto de azul, de ser revisto e transvisto. 
       
        O espetáculo é, antes de tudo, um convite. Um convite à brincadeira, ao encantamento, à desconstrução das palavras acostumadas, à linguagem dos pássaros e das pedras, ao deslimite. Vamos, Cariri! :)



QUANDO: 10, 11 e 12 de abril

QUE HORAS: 19h30 
ONDE: Centro Cultural Banco do Nordeste-Cariri (Juazeiro do Norte, CE).

*Classificação Indicativa: 18 anos.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Festa de inauguração da A.Bo.Ca!

   
 A.Bo.Ca finalmente vai ser aberta!

      Dia 29 de março será a inauguração da A.Bo.Ca Espaço de Teatros, sede da Bololô Cia. Cênica, do Grupo Carmin de Teatro e do Coletivo Artístico Atores à Deriva.
     Para celebrar essa grande alegria que é a conquista de uma sede, a Bololô, junto com seus parceiros, planejou uma programação especial para vocês!

     A noite começa com duas apresentações teatrais:
Às 20 horas tem apresentação do espetáculo O Cobrador, do Coletivo Atores à Deriva.
Às 21 horas, apresentação do experimento performático Na Mesa com o Bobo, da Bololô Cia. Cênica.

      E termina com festa:
Às 22 horas começamos com o show Buena Onda, de Ângela Castro, vocalista da banda Rosa de Pedra.
A partir das 23 horas começa a discotecagem de Tiago Landeira e em seguida temos Danina Nua pra fazer todo mundo dançar até o chão! E no meio disso tudo ainda vamos agenciar uma batalha de DJs entre os dois, pra fazer A.Bo.Ca ferver!

      A festa não tem hora pra acabar.
      Convidamos todos vocês pra comemorar e abrir A.Bo.Ca com a gente!


Endereço da A.Bo.Ca:
Rua Frei Miguelinho, n 16, Ribeira
(fica na mesma rua da Casa da Ribeira, paralela a Rua Chile)



quarta-feira, 12 de março de 2014

Voltando com tudo e com casa nova!

      Ano passado o blog andou parado devido à loucura de tanto trabalho que foi a estréia e temporada do espetáculo Encruzilhada do Mundo ou Sobre a Areia e o Vento, mas agora voltaremos à nossa programação normal :)
      2014 promete ser um ano de muito trabalho!
    E a boa notícia é que agora a Bololô trabalha na sua própria sede. No final do ano passado, a Bololô se uniu ao Grupo Carmin de Teatro e ao Coletivo Artístico Atores à Deriva e juntos fizeram do prédio de número 16 da Rua Frei Miguelinho, no bairro da Ribeira, a sua casa. Assim surgiu A.Bo.Ca Espaço de Teatros. 



      A.Bo.Ca. Espaço de Teatros funciona como a sede dos três grupos e tem como objetivo fortalecer a cena teatral natalense através das nossas pesquisas, montagens, apresentações de espetáculos e experimentos, oficinas e workshops.
     Por que A.Bo.Ca? Quando assistimos a um bom espetáculo de teatro, muitas vezes nossa expressão para descreve-lo é: “é de cair o queixo” ou “fiquei de boca aberta”. Claro que quando a peça é ruim logo falamos: “Passei o tempo todo abrindo a boca".
     E nos parece que essas não são as únicas associações do Teatro com a boca. A fala, o grito, o canto, um sussurro, um riso: são expressões  desta parte tão sensorial do nosso corpo. Sensorial e fatal, pois afinal também morre-se pela boca e por ela matamos a nossa fome. A.Bo.Ca veio, então, contribuir para saciar a fome de teatro da cidade.
     Desta forma, é uma feliz coincidência que as iniciais dos três coletivos tenham resultado no nome  A. Bo. Ca: Atores à deriva, Bololô e Carmin.
     A.Bo.Ca. será inaugurada oficialmente em breve, em uma noite de apresentações e festa! Logo logo divulgaremos as datas e as atrações!
   Até!